Beijo no bloco, camisinha grátis, adulto fantasiado… estrangeiros contam o que estranharam no Carnaval no Brasil

Nas conversas e entrevistas com imigrantes, vira e mexe surge alguma história curiosa relacionada com o Carnaval. Falei com sete deles para saber qual foi a primeira impressão que tiveram sobre a festa no Brasil. Do sírio que caiu num bloco em seu segundo dia no país e deu o primeiro beijo da vida à paquistanesa que achou que fosse um evento religioso —e logo percebeu que estava enganada—, leia os relatos.

“Pensei que fosse uma festa religiosa… até que fui num bloco na República”

Ayesha Saeed, do Paquistão

A paquistanesa Ayesha Saeed (Foto: Bruno Santos/Folhapress)

“Eu não sabia o que era o Carnaval antes de vir para cá. Perguntei pros meus alunos: o que é o Carnaval? Me falaram que era uma festa que acontecia 40 dias antes da Páscoa, que tinha um momento em que não pode comer carne. Pensei: deve ser uma festa bem religiosa, preciso conhecer. Aí eu fui num bloco na República. Nossa, não gostei. Estava muito, muito ruim. Todo mundo bebendo, usando drogas. Só aguentei uma hora. Falei: “quero sair, não consigo respirar” Isso não é pra mim. Depois fui a uns blocos mais família e adorei. Também já fui no Sambódromo e achei muito, muito bonito.”

“Entrei num bloco achando que era manifestação. Ali dei meu primeiro beijo”

Hakam Elyoussef, da Síria

O sírio Hakam Elyoussef no bloco de Carnaval (Foto: Arquivo pessoal)

“Cheguei em fevereiro de 2014, sem saber o que estava acontecendo, sem falar português. No segundo dia aqui, vi um bloco na rua e achei que era manifestação. Dei o primeiro beijo da minha vida. Essa coisa é doida: na Síria, você vê isso no jornal, na série, na novela, mas aqui você se sente vivendo a novela, vivendo a série, vivendo o filme. Lá na minha comunidade na Síria tudo isso, só depois do casamento.”

“Achei curioso que aqui distribuem camisinhas grátis”

Yuhuang Li, da China

“Cheguei no Brasil em fevereiro de 2011. Eu era muito jovem e estava muito curiosa com o Carnaval. Minha primeira impressão foi que os brasileiros são mais abertos sobre sexo do que os chineses, porque fazem distribuição de camisinhas grátis. Isso nunca aconteceu na China. Mas eu acho que é bom para proteger as meninas. Gostei de participar do Carnaval, de dançar com amigos. Foi uma memória maravilhosa. Mas depois de ter filhos, eu preferi ficar em casa porque eles são pequenos ainda.”

“Falaram que eu ia beijar muito por ser estrangeiro; não beijei ninguém”

Rocco Belletti, da Itália

“Deixei tudo pra trás pra vir morar em Salvador com minha namorada. Logo depois que cheguei, a gente se separou. Fiquei muito triste, sem saber o idioma, sem conhecer ninguém. Aí chegou o Carnaval.Todo mundo falou que as pessoas beijam muito, que o pessoal fazia sexo nas ruas, que por ser estrangeiro eu ia arrumar 40, 50 meninas numa noite. Paguei caro por um abadá de dois dias no Chiclete com Banana. Não beijei ninguém. Acho que minha energia não estava boa, eu me sentia tímido naquele momento. Depois fui pra “pipoca” (blocos gratuitos, sem corda) e me diverti mais, beijei umas meninas, comecei a curtir.

Em São Paulo eu tive uma ótima experiência no Sambódromo. Eu não gostava de ver o Carnaval pela TV, mas depois de ir lá, de ver como tem relação com a cultura brasileira, com os afrodescendentes, de ver como escolhem os assuntos… comecei a gostar. Adorei a energia da bateria, foi o que mais me impressionou. Estou gostando muito também de ver o Carnaval de rua crescendo na cidade.”

“O samba parece uma dança do ventre mais rápida”

O sírio Abdo Jarour (Foto: Karime Xavier/Folhapress)

Abdo Jarour, da Síria

Participei umas três vezes de blocos de rua e foi uma experiência totalmente diferente. Você olha no rosto das pessoas e vê que elas estão lá unidas pela felicidade. Todo mundo fica rindo, gritando, cantando, uma coisa muito bonita. Eu acho que o samba parece uma dança do ventre mais rápida, porque também mexe com a região do ventre pra baixo. 

Já o desfile das escolas de samba é como se fosse uma Copa, uma disputa. Eu entendi melhor quando participei. Vi a Gaviões da Fiel, em 2018, e me apaixonei, já que sou corintiano. Este ano vou desfilar pela Unidos do Peruche e já sei que vai ser minha escola pra sempre. Como meu time, o Corinthians. 

“Na Venezuela só as crianças usam fantasias”

Carmen Lopez, da Venezuela

“Na Venezuela geralmente só as crianças usam fantasias. A gente vai para a praia ou descansa em casa, não é nem um quarto do que é a festa aqui. Eu adoro o Carnaval do Brasil porque nos bloquinhos os adultos também se fantasiam, as pessoas são livres, é aquela alegria, aquele amor. E também adoro as escolas de samba. Ano passado desfilei pela Mancha Verde e foi uma sensação muito linda quando começaram os tambores, o samba, a aquela adrenalina. Adorei.”

“Achava que o desfile das escolas de samba era na rua, gratuito”

Samira Nancassa, de Guiné Bissau

Samira Nancassa, de Guiné Bissau (Foto: Arquivo pessoal)

“Eu achava que os desfiles das escolas de samba aconteceriam na rua, como os blocos. Nunca pensei que tinha que pagar para assistir no sambódromo. Mas acabei gostando daquele entusiasmo de todo mundo, da felicidade das pessoas.

Eu não entendia como eles conseguem fazer aqueles figurinos para milhares de pessoas, aquela produção toda. Achava que chegava fevereiro e eles começaram a preparar tudo.  Depois entendi que é um empenho que dura praticamente o ano todo, não é de uma hora para a outra. Acaba o Carnaval e começa toda a rotina de novo pro próximo. Eu não fazia ideia de que era assim.

Gosto dos blocos de rua porque é aquela imagem que a gente sempre teve lá na África de que o Brasil tem o melhor Carnaval do mundo. No meu país também tem Carnaval, mas não é como aqui, que você sente a emoção nos olhos das pessoas.”